Na semana passada a Amazon foi notícia por dois motivos: o primeiro, e o mais falado, deve-se à chegada do seu CEO, Jeff Bezos, ao segundo lugar no ranking dos homens mais ricos do mundo. Já o segundo motivo, revela que é provável que Bezos chegue em breve à liderança desse mesmo ranking. Neste momento, a Amazon está a negociar com retalhistas e produtores para que façam chegar os seus produtos diretamente ao consumidor final, passando ao lado dos distribuidores alimentares, como o Walmart ou a Target. Mas o que é que isso realmente significa?
Para chegarmos lá, temos que recuar uns bons 20 anos, à época em que a Amazon chegou ao mercado e se destacou no e-commerce livreiro, assumindo a sua missão de levar ao cliente o que ele precisa da forma mais simples e conveniente possível. Seguiu-se a liderança como fornecedor mundial de serviços de cloud computing, a criação do Kindle, o suporte digital para leitura, e mais recentemente da Amazon Echo com a assistente virtual Alexa, que assegura revolucionar, através da voz, a relação entre marcas e consumidores. Espera-se que, em poucos anos, a maioria do comércio eletrónico seja feito através de dispositivos como este, com comandos de voz. E, claro que esta revolução vai passar também pela indústria alimentar.
Muito mais do que um retalhista comum
A Amazon tem, na minha opinião, duas grandes qualidades: está focada no cliente, mas não tem pressa para o provar e por isso, vai provando…. É uma marca que é gerida com calma, dá passos seguros, simplesmente porque dá aos seus clientes o que eles procuram. A aposta nos membros Prime que, com uma assinatura beneficiam de acesso a acesso a streaming de vídeo, música, e-books, portes grátis e uma variedade de outros serviços e promoções específicos, permite à Amazon manter uma relação a longo prazo com os seus clientes que consideram um no-brainer pagar os $10.99 por ter tanta comodidade e qualidade de serviço.
E assim, quanto mais compradores a Amazon atrai, mais retalhistas e fabricantes querem vender os seus produtos no seu e-commerce. Se olharmos para a lista de concorrentes atuais e possíveis que a Amazon tem, encontramos empresas de logística, motores de busca, redes sociais, fabricantes de alimentos e produtores de “meios físicos, digitais e interativos de todos os tipos”. Uma variedade tão grande que faz com que a empresa se assemelhe mais a um conglomerado de empresas do que a um retalhista.
Isso dá à Amazon dinheiro suficiente para criar novos serviços – como entregas em duas horas, a possibilidade de disponibilizar a Alexa para desenvolvimento de serviços úteis aos consumidores e ainda para testar serviços inesperados como o AmazonFresh Pickup, uma forma rápida e fácil de encomendar produtos alimentares e de ir buscá-los em pouco minutos a um local definido pela Amazon. As encomendas podem estar prontas em apenas 15 minutos após o pedido, sendo este um serviço gratuito para os membros Prime da Amazon.
A indústria milionária e a aposta no híbrido
São dois os motivos que fazem com que o casamento entre a Amazon e a industria alimentar faça todo o sentido, e que garantem, à partida, que daí nasça uma relação vencedora. Primeiro, mais de metade de cada novo dólar gasto on-line nos EUA vai para a Amazon. Segundo, os analistas preveem que as compras on-line irão representar 20 por cento de todos os gastos com alimentação na próxima década.
O comércio eletrónico alimentar tem também duas caraterísticas que o tornam especial: o cliente tem que estar em casa para receber as compras, e os produtos exigem um tratamento humano mais cuidado, pois são perecíveis e devem ser entregues no mais curto espaço de tempo possível. Estas duas caraterísticas dificultam muito a rentabilidade deste negócio. A Amazon quer dar a volta ao problema, jogando os seus pontos fortes – logística e uma boa base de clientes Prime, que já cobrem os principais custos de estrutura, assegurando ajustes de preços baseados em algoritmos e facilidade de uso – para conquistar clientes através de conveniência pura, como podermos verificar pelo exemplo do serviço AmazonFresh Pickup.
Assim, se o pick-up for bem-sucedido, a Amazon terá conseguido o inimaginável. Foi a empresa que mudou o retalho para sempre ao levar tudo até sua casa, e que agora passará a convencê-lo a conduzir para recolher a sua encomenda.
Joana Carravilla,
Country manager da Elife Portugal, no Imagens de Marca